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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Os últimos devaneios de 2014

Volta e meia vejo gente dizendo que a vida é curta e se pautando nesse conceito para tomar decisões atitudes e coisas do tipo. Embora eu concorde que seja louvável sair da estagnação e fazer as coisas acontecerem em sua própria vida, acho que existe um erro de conceito quando você o faz partindo da ideia que a vida é curta. Ela não é, ela dura uma vida inteira. Eu, em vez disso, venho tentando pautar minhas decisões e atitudes nem tanto na brevidade da vida, mas sim em sua inevitabilidade e imprevisibilidade.
Devemos aceitar correr certos riscos, dar a cara a tapa, mesmo, e digo isso principalmente no que se refere a relacionamentos. Não sabemos até quando aquela pessoa para quem precisamos dizer algo ainda estará lá para ouvir; mas nos prendemos tanto à questão de não saber qual será sua reação que acabamos perdendo nossa própria reação. Enfim, como de costume, só um monte de pensamentos não necessariamente conexos, mas que precisavam de uma via para serem desabafados.
Espero ter feito a coisa certa.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Pirateando a mim mesmo e navegando pelos mares cronais.



Onde o post começou.
Faço esta postagem rindo internamente da ironia das coisas.

No distante ano de 1997, o The Gathering lançou aquele que seria um dos melhores e menos classificáveis álbuns da história do metal: Nighttime Birds. O rótulo "gothic metal" frequentemente é usado para classificar esse álbum por pura questão de CONVENIÊNCIA, pois convenhamos, ele está MUITO distante desse estilo(que tem seus altos e baixos por si só, mas isso é outra história). Mas a questão aqui é que eu TENHO esse álbum, e eu gosto dele. Ele me traz memórias aconchegantes e a lembrança de que nem sempre o metal tem que ser aquela coisa grotesca e carrancuda, muito pelo contrário. Mas ocorreu algo grotesco e carrancudo: O CD MOFOU* de tanto ficar guardado no armário! Eu estava com vontade de ouvi-lo e não podia! Assim...Tive que recorrer à pirataria. Sim, é só isso. Nada de grandioso ou importante para discutir hoje.
Sou ambos e nenhum ao mesmo tempo.
Na verdade, deve-se até dar um desconto por eu conseguir sequer LEMBRAR do que eu estava escrevendo quando comecei este post, quase dois anos atrás, em janeiro de 2011. Tudo o que está antes do asterisco deste texto é daquela época. Ou seja, metade dele, aproximadamente.

Eu sempre tive memória curta. É muito engraçado mesmo conseguir lembrar um fio de raciocínio de algo tão trivial e tanto tempo depois...

sábado, 5 de novembro de 2011

Tradução: Jerusalém, de William Blake

MUITO tempo sem postar por aqui. Mas não esqueci o blog, não!
Hoje eu trago uma poesia que eu traduzi por esporte (logo, não pertence a nenhum cliente e posso divulgar à vontade). É de um dos maiores poetas da literatura inglesa, William Blake. O cara era um grande artista iluminado, além da poesia e das gravuras ele também desenvolvia suas teorias e ideias místicas e metafísicas. Uma figura deveras curiosa. Aconselho muito ler sobre ele.
O poema escolhido foi Jerusalem, também conhecido como And did those feet. Postarei primeiro o original em inglês e na sequência minha tradução. Foi igualmente trabalhosa e prazerosa. Espero que seja um prazer como leitura para vocês, também. Ah: dedico essa tradução a todos os movimentos e ações libertárias, presentes, passados e futuros, que lutam, lutaram e lutarão e não cessarão o combate até que nossa terra seja uma Jerusalém. Uma Avalon. Uma Camelot. Uma Asgard. Os Campos Elísios. E todos esses ao mesmo tempo.


And did those feet in ancient time.
Walk upon England's mountains green:
And was the holy Lamb of God,
On England's pleasant pastures seen!

And did the Countenance Divine,

Shine forth upon our clouded hills?
And was Jerusalem builded here,
Among these dark Satanic Mills?

Bring me my Bow of burning gold;

Bring me my Arrows of desire:
Bring me my Spear: O clouds unfold!
Bring me my Chariot of fire!

I will not cease from Mental Fight,

Nor shall my Sword sleep in my hand:
Till we have built Jerusalem,
In England's green & pleasant Land


Em tempos idos, estes pés,
Peregrinaram nas montanhas:
Foi visto então, o Cordeiro,
Nos pastos verdes da Inglaterra!

E o semblante divino
Brilhara em meio aos turvos montes?
E aqui nasceu Jerusalém
Em meio à máquina infernal?

Tragam-me o arco dourado
Tragam-me as flechas do desejo
Tragam a lança entre as nuvens
Tragam o carro flamejante

Não cessará meu combate
Nem minha espada hei de baixar
Até que ergamos Jerusalém
Nos verdes campos da Inglaterra!!!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Retorno eterno

"ESSE cativeiro é ADORÁVEL"
Com essas palavras eu encerrei um post de novembro, que fora um outro post em janeiro, inspirado pelo terror causado pela tenebrosidade palpável do Celtic Frost, foi minha última manifestação neste blog.
Uma preciosa lição foi aprendida nesse tempo: NENHUM cativeiro, sem exceções, pode ser considerado "adorável"; pois ao fazê-lo, abrimos mão de nossa capacidade de juízo, de escolha. E ao nos tornarmos dependentes do suposto "cativeiro adorável", perdemos o prazer pela liberdade. E então, quando na condição de cativos, recebemos, sem pedir, a liberdade de volta, ela torna-se uma experiência traumática.
A liberdade deve ser amada. Não uma gaiola dourada cravejada de cristais e safiras, com fontes inesgotáveis de mel.
É bom estar de volta.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O réptil e o sonho

Segunda-feira. Mais uma semana que tinha tudo para começar como todas as outras, mas que por algum motivo (gerador de improbabilidade, talvez?), recusou-se a tanto. Ah, não, não ESTA semana, não senhor! Vejamos o que ocorreu: Na madrugada, enquanto dormia, tive um sonho estranho, com um dos meus maiores medos. O que era estranho? Bom, talvez o fato de UM de meus maiores medos estar presente e eu não ter demonstrado medo? No caso do sonho, foi a altura. Quem já assistiu "Indiana Jones e o Templo da Perdição" deve lembrar da cena da ponte de corda. Foi algo parecido, só que sem adoradores de Kali, chicote ou facão. Mas a morena voluntariosa estava lá, pelo menos! Rs! Pois bem, acordei atrasado e tomei banho correndo. Detalhe: Na madrugada, enquanto estava ocupado brincando de "Indiana Jones no reino do Inconsciente", choveu bastante. Detalhe APARENTEMENTE desprovido de importância. Mas tal qual aconteceu com a criação de Victor Frankenstein, naquela noite chuvosa algo se movia e recebia seus primeiros impulsos de vida. Algo que haveria de crescer e tornar-se uma força irresistível. O dia amanhece. Avançamos algumas horas e chegamos ao ponto onde nossa narrativa parou: eu estou tomando banho correndo, atrasado em meu cronograma particular e tentando desesperadamente não atrasar-me para o dia de trabalho. SURPREENDENTEMENTE, consegui.

E então, eis que ocorreu algo extremamente incomum. O incomum completamente sustentado no cotidiano. "Todo dia ela faz tudo sempre igual/me sacode às seis horas da manhã/me sorri um sorriso pontual/e me beija com a boca de hortelã". O cotidiano que revela-se o absurdo do fantástico. Ao sair de casa, tranquei o portão. Depois de dar a volta na chave, dei mais uma chacoalhadinha no portão para certificar-me de que estava trancado. Como já foi mencionado, choveu na madrugada anterior. O mundo estava úmido. O céu estava cinzento. DOOM, até. As grades molhadas do portão. Ao chacoalhar as grades, algumas gotas respingaram em minha mão. Mas havia ALGO MAIS que também caiu. A mente é uma coisa impressionante. Nós não prestamos atenção em nossa própria capacidade de perceber detalhes. De construir raciocínios a partir desses detalhes. De construir visões de mundo inteiras a partir de um ligeiro detalhe insignificante. Mas DESTA vez eu enigmaticamente consegui acompanhar o meu processo de pensamento do incício ao fim, embora ele não deva ter durado mais do que um segundo. A princípio pensei ser água. Mas como não escorregou, e demonstrou consistência sólida, pensei em um resíduo. Algo como um pedaço de graveto, ou casca de árvore, ou folha. Algo do tipo, inanimado. AINDA dentro desse um segundo da construção do processo de pensamento, meus olhos focaram a mão. O que eles viram simplesmente distorceu minha mente. De forma definitiva, talvez. É de conhecimento comum, público e notório, que lagartixas (aliás, répteis em geral) são frios. "Geladinhos" dizem alguns. Pois é. É isso. Cortei o suspense gótico vitoriano. Foi uma LAGARTIXA que caiu em minha mão. E minha mente continuava funcionando no quadro-a-quadro. Aconteceu tudo rápido, mas eu vi claramente o processo de pensamento passar da reação de FUGA(do bicho que mais me apavora no mundo), que levou o corpo a pular, para o reflexo de REAÇÃO que fez o corpo ARREMESSAR o bicho que estava em cima da mão, e do qual, portanto, não adiantaria fugir.

Então, é isso. Para um observador externo, eu pulei e joguei longe uma lagartixinha, tão somente.

Mas para o único observador interno, está claro agora que uma força conquistadora está a caminho. Algo como Arthur, o rei adormecido que dorme, aguardando o momento de maior momento da Britânia. Como Brian Boru, da Irlanda. Como Dom Sebastião, de Portugal.

Mas esse rei ainda dorme. Prova disso é o fato de que ao procurar uma imagem para ilustrar esse post, na busca de imagens do Google, não consegui disfarçar minha ojeriza. Vamos tentar novamente, agora.Ao que parece, o Rei Adormecido dá pontapés durante o sono! ;-)

Ilustram este post, em ordem de aparição: Rei Arthur, Brian Boru, D. Sebastião e uma lagartixa.

BONUS TRACK DA VERSÃO JAPONESA:

LAGARTIXA

Nome científico: Rhacodactylus leachianus, Gekko gecko, Gekko smithi, Uroplatus fimbriatus
and Saltuarius cornutus

Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Família: Gekkonidae
Habitat: Áreas florestais
Hábitos: Dependendo de cada espécie, pode ser diurno ou noturno.
Nome comum: Lagartixa

Características: As lagartixas têm facilidade para subir em qualquer lugar.Isso porque elas possuem uma espécie de pequenas laminas cobertas por pêlos microscópicos em forma de ganchos e são esses pêlos permitem a esses animais escalar muros, vidros de janelas e andar pelo teto de cabeça para baixo. É comum que as lagartixas se instalem em nossas casas, mas isso é bom, pois se alimentam de insetos daninhos, como as traças e mosquitos. São animais frágeis, de coloração bege clara e olhos escuros.
A reprodução é ovípara. Geralmente, as fêmeas põe entre 1 ou 2 ovos e guardam em cascas de árvores ou fendas em pedras. Existem mais de 400 espécies de lagartixas nas regiões quentes do mundo.

Fonte: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/lagartixa.htm

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Improbability drive!!!(Ou: "Pequenos milagres cotidianos")

Em algum lugar do universo um motor de improbabilidade deve estar sendo construído. De fato, é possível (embora não provável, por motivos óbvios) que ele JÁ esteja funcionando. Para aqueles não-familiarizados com essa tecnologia: O motor de improbabilidade (originalmente, Improbability Drive, em inglês) foi criado pelo escritor Douglas Adams, e cria um campo dentro do qual, absolutamente QUALQUER COISA pode ocorrer. Em sua obra "O Guia do Mochileiro das Galáxias"(originalmente, "The Hitchhiker's Guide to the Galaxy", em inglês), esse motor é a força... bem... MOTORA da nave mais veloz da galáxia, a Coração de Ouro (originalmente Heart of Gold, em inglês). Simplificando grosseiramente, quanto mais improbabilidade fosse acumulada, mais fácil seria a nave ir parar em um lugar distante, completamente diverso daquele em que se encontrava no momento. Uma estratégia para evitar os enjôos do hiperespaço(originalmente, hyperspace, em inglês, se não me falha a memória(originalmente, memory, em inglês). Algo assim.
Enfim.
Qual o meu motivo(originalmente, reason, em inglês) de falar sobre esse monte de coisas? Continue lendo(originalmente, read on, em inglês)...
Há um cientista americano DE VERDADE (originalmente, A REAL American scientist, em inglês), Ronald Mallet, construindo uma máquina do tempo (originalmente, time machine, em inglês) DE VERDADE, usando tecnologia DE VERDADE! Isso é meio improvável, não? E a improbabilidade atrai mais improbabilidade! Algo do tipo, quanto mais improvável é um acontecimento, maior é o "rombo" que ele deixa no tecido das probabilidades para que OUTROS eventos improváveis de menor tamanho ocorram, até tapar aquele rombo. Na verdade, é até possível que a máquina de Mallet não tenha sido a primeira pedra a ser derrubada nesse efeito dominó, mas que seja apenas mais uma improbabilidade tentando ocupar o vácuo de OUTRO evento altamente improvável, do qual todos nós devemos estar lembrados: A MORTE de Dercy Gonçalves!
Se considerarmos ESSE como o evento catalisador, então teremos grandes improbabilidades cada vez menores escoando e fechando o buraco. E isso explica como uma luva as duas improbabilidades que presenciei esta semana e que são o motivo da existância deste post:

Terça-feira, 31/03/2009:
Ao voltar do serviço, encontrei, no lugar mais IMPROVÁVEL possível um ser vivo!
DENTRO do vagão do metrô. DENTRO da lâmpada dentro do vagão de metrô. E sim, a lâmpada ESTAVA acesa! E QUAL era a improvável fera urbana que andava de metrô? UMA LAGARTIXA! O DRAGÃO URBANO ME SEGUINDO DENTRO DO METRÔ! Deja Vu de Predador 2, pra quem já assistiu.

Quarta-feira, 01/04/2009
Ao voltar do serviço, escuto um som de flauta. Uma garota (bonitinha, se me permitem o comentário) andando despreocupadamente pela Av. Paulista, tocando flauta com a mesma tranquilidade que eu conversava com minha colega de trabalho ao meu lado. Ela entrou na estação de metrô e continuou tocando, na escada rolante, ao lado de um dos guardas. Momento ABSURDAMENTE insólito e improvável!

Para os próximos dias, espero um AUMENTO na QUANTIDADE de eventos improváveis e uma proporcional REDUÇÃO na INTENSIDADE de sua improbabilidade.

sábado, 15 de novembro de 2008

Paraíso perdido - Ou: O caminho do conhecimento não cruza com o caminho do conforto

Boa noite a todos.
Aqui estou eu postando o texto que era para eu ter postado ontem à noite, se não tivesse sido praticamente sequestrado pela fúria que me FORÇOU a escrever o texto sobre a conclusão.
É um texto que originalmente foi publicado na revista PC Master 74, na coluna Crônica, suponho que em agosto de 2003. O autor do texto é Leandro Calçada (leandro.calcada@europanet.com.br), e assim que terminar de escrever este texto, mandarei-lhe um e-mail contando que seu texto de cinco anos atrás foi reaproveitado.
Agora, boa leitura.

"PARAÍSO PERDIDO

O caminho do conhecimento não cruza com o caminho do conforto

Por Leandro Calçada
leandro.calcada@europanet.com.br

Desde os tempos mais remotos, comer da árvore do conhecimento nos expulsa do paraíso. Não, amigos, não falo de maçãs, muito menos do momento em que Eva resolveu levar a sério aquela história do 'crescei e multiplicai-vos'. Falo do verdadeiro fruto da árvore, que apreciamos e aprendemos a perseguir todos os dias: o conhecimento do bem e do mal, do certo e do errado, do digital e do analógico.
Se nascemos em um paraíso no qual o conhecimento cresce em árvores proibidas, nossa curiosidade nasce nos ninhos de serpente, pronta a nos oferecer a visão de tudo o que nos é o oculto. Não é exatamente uma decisão, comer ou não do fruto. Todo ser humano quer o conhecimento e sua busca é a verdadeira essência da humanidade. É essa busca, e não propriamente Deus, que nos expulsa do paraíso.
Se eu fosse religioso, diria que isso prova que o 'pecado original' está impresso em cada um de nós e ponto final. Mas não é o significado religioso, e sim o prático, que me interessa. E, na prática, escolhemos a árvore do conhecimento desde o mais rudimentar primeiro aprendizado.
Explico: cada pequeno aprendizado, ainda que inocente, traz uma visão de mundo mais completa, que torna a vida melhor. Com a melhor percepção, entretanto, percebemos que há mais conhecimento a buscar, e problemas que antes não percebíamos, tornam-se visíveis. Para resolvê-los, vamos atrás de mais conhecimento. Note que não é o mundo que piora, é a nossa visão que melhora.
Todo este conhecimento nos coloca frente a problemas cada vez maiores. E conforme melhora nossa visão do mundo, progressivamente perdemos o paraíso. Uma a uma as fantasias infantis de inocência dão lugar à realidade do bem e do mal, da inimizade e da desconfiança. Lembro-me de ter, na adolescência, uma contínua e equivocada sensação de que o mundo ficava pior a cada dia.
Nessa época, finalmente percebia que para a vida não há backup, não há garantia de fábrica, e, o que é pior, não há comando para desfazer. Para completar, cedo ou tarde percebemos que só é possível prosseguir no caminho do conhecimento com liberdade. E o preço da liberdade é a expulsão do paraíso, a perda do conforto, a entrada de vez no mundo estranho e incerto da realidade. Somente com liberdade se pode buscar o verdadeiro conhecimento do bem e do mal, mas para tê-la, é preciso abandonar o paraíso e trilhar o árduo caminho da responsabilidade.
Tomar as próprias decisões exige que se abandone o paraíso. Seja saindo da casa dos pais, gerando um filho ou mudando de software proprietário para software livre, a aquisição do conhecimento melhora nossa visão, mas nos confronta com problemas mais complexos que os que tínhamos antes. O preço do conhecimento e da liberdade é a responsabilidade pela própria vida. 'Ganharás o pão com o suor do teu rosto', diz o livro. Conhecimento e liberdade têm um preço. Mas é um preço justo."

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Conclusão

Olá a tod@s.
Eu não estava querendo escrever ESTE texto hoje. Mas a inspiração veio. Veio e arrebatou-me. Arrebatou-me não como uma musa lasciva que desperta desejos incontroláveis, mas como uma implacável fúria, que devora os ossos daqueles que se opõem à sua vontade.
"Publique-me!" ela gritava, com seu hálito sulfuroso em meu rosto enquanto pressionava minha garganta e eu sentia aquelas garras, portadoras de milhares de infecções inauditas pelos mortais começando a rasgar minha carne...
A fúria lançou-me ao chão e eu comecei a sentir a febre se instalando, e não tive opção, além de rastejar até este computador e escrever as palavras que a fúria me dita, com o seu chicote amarrado ao meu pescoço:

"Já pararam para pensar o quanto da nossa vida é composta por coisas que efetivamente não vemos? Não apenas as coisas que ocorrem longe do local onde estamos, mas também as coisas que ocorrem diante de nossos olhos e não percebemos.
Suponho que seja um efeito colateral de uma mente racional. Para entender isso, preciso explicar de forma resumida o efeito descrito por Scott McCloud em seu livro 'Desvendando os Quadrinhos': McCloud fala sobre a CONCLUSÃO, que é a capacidade humana de 'criar' mentalmente os quadros da cena que faltam, por exemplo, entre um quadrinho e outro de uma história em quadrinhos. Uma capacidade humana. Racional. Inteligente. Criativa. Parte do pacote do Fogo de Prometeu. Um dos gomos da fruta da Árvore do Conhecimento. Pois bem.
A minha suposição é que o nosso uso dessa capacidade se estende para muito além das obras ficcionais, e que na verdade usamos a conclusão em nosso dia-a-dia, em atividades comuns, banais e repetitivas.
Ou seja: Você NÃO viu como vc subiu a escadaria da cozinha até o seu quarto, como vc faz todos os dias, mas SABE como o fez, pois usou a sua habilidade de CONCLUSÃO para uma cena com a qual você já está familiarizado! Impressionante, não? É meio que um Deja Vu ao contrário.
Agora, pense sobre o seguinte:
Animais.
Irracionais.
Eles não criam um "banco de dados" de cenas comuns, familiares ou repetititivas.
Resultado?
Eles EFETIVAMENTE parecem mais ágeis que o ser humano normal, de forma geral, mas no fim das contas, a verdade não é bem essa! O que ocorre, é que o poder de conclusão faz o homem reagir a situações primeiramente baseado naquilo que está armazenado em seu banco de dados de conclusão, e apenas DEPOIS é que é ativada a resposta de REAÇÃO propriamente dita. Já os animais, por não serem racionais, reagem sempre ao que está de fato acontecendo no momento.
ISSO é uma explicação EXCELENTE para não conseguirmos pegar uma mosca com as mãos, por exemplo. Ou mais ainda, a dificuldade em surpreender um felino."

E foi isso que a fúria me disse.
Tudo me dói.
Mas pelo menos ela foi-se.
Boa noite aos que sobraram.

sábado, 25 de outubro de 2008

Devaneio existencialista

Trecho de uma conversa no MSN, na madrugada entre sexta-feira e sábado. Palavras ditas em um reino imaterial, no espaço de tempo entre as horas. Aquilo que é dito no interstício dos dias:

"Não é que vc não viva "na realidade". Apenas o seu PEDAÇO de realidade é diferente do dela. Que por sua vez é diferente do meu. Que por sua vez é diferente de... Ah, vc entendeu.Ninguém, sozinho, vive na realidade. Todos nós temos apenas partes dela.E tentamos desesperadamente fazer os nossos pedaços combinarem com os de outras pessoas que têm outros pedaços, mas não sabemos:
1)Quantos pedaços existem;
2)Quantos pedaços aquela pessoa tem;
3)QUAIS pedaços aquela pessoa tem.
A realidade só faz sentido como o todo, por isso quanto mais cada um se apega a seu pedaço de mundo, de realidade, de certeza, menos sentido o CONJUNTO das coisas passa a fazer."


Alguém concorda com isso?